segunda-feira, setembro 19, 2005

Quase morto no deserto...

Pois é, adaptando livremente uma letra do Sérgio Godinho: "Estava quase morto no deserto/ e Viana do Castelo aqui tão perto..."
Passei este fim-de-semana num hotel simplesmente espectacular, que podem ver aqui (link).
Fascinante o hotel "Flor de Sal", com o seu Spa e as vistas esplendorosas. Quando quiserem fugir, está aqui a 70 Km do Porto, e no entanto ficamos tão longe de tudo!
Quanto à cidade, está a ficar muito agradável. O centro histórico está muito bem recuperado, embora ainda existam bastantes obras em curso (ainda por cima estamos em vésperas de autárquicas e sabemos como isso potencia as obras de última hora). Só tem um problema esta cidade: o estacionamento, que só existe em parques próprios, às vezes um pouco longe do local onde se pretende ir. Mas enfim, não deixa de ser apenas um pormenor.

segunda-feira, setembro 12, 2005

Flute

A luz era fosca como em todos os bares. As colunas debitavam um “hip hop” agressivo, da nova vaga, que contrastava com o ambiente de cabaret dos anos setenta, que a decoração gasta emprestava ao local. O ar era denso, e um nevoeiro de fumo de tabaco tornava as formas levemente distorcidas, enquanto as silhuetas humanas assumiam contornos feéricos. Tanto podia estar a entrar num lupanar, como num bosque encantado – pensou – de onde, no meio do nevoeiro, lhe saltaria a qualquer instante uma fada, um duende ou um gnomo.
-Olá! Pagas-me uma bebida?
Certamente, encontrava-se na floresta, pois a voz, doce e serena, pertenceria sem dúvida a uma deusa do destino. Virou-se, na direcção da pergunta, e sorriu de si mesmo. A fada à sua frente, media pouco mais de um metro e sessenta, pesava uns cinquenta e muitos quilos, e pesavam-lhe também as agruras por que certamente tinha passado, e que lhe formatavam um olhar agro, que contrastava com o sorriso estudado e cativante. A voz e o sorriso, pareciam que tinham sido implantadas num conjunto díspar. Eram a bela, enquanto todo o resto era o monstro. Ao corpo de mulher parideira, de anca larga, onde a celulite se conseguia adivinhar por baixo de uma mini-saia demasiado justa, juntavam-se-lhe quatro membros que sugeriam que o autor de tal escultura não tinha a noção da proporção. Os braços demasiado curtos e flácidos, as pernas incompreensivelmente longas tendo em conta a altura do tronco.
-Tenho sede, posso pedir champanhe para os dois? – insistiu a dona da voz maviosa e do corpo disforme.
No seu rosto pairava o sorriso estudado, nos olhos a vontade de não deixar escapar a presa, e como qualquer predador usava as armas de que dispunha: a voz e o sorriso.
A presa, por sua vez voltou ao bosque, e se lhe perguntassem era capaz de jurar que a flute na mão dela era uma varinha de condão!