quinta-feira, junho 23, 2005

O seu Nome....

Acordou com a preguiça colada no seu corpo. A cama revolta indiciava uma noite agitada. Mais uma vez Morfeu tinha-lhe preparado um festim de pensamentos importunos e más recordações do passado, embrulhados sob a forma de sonhos. A noite dormida mas não descansada, fazia com que a preguiça não desse lugar ao renascimento da vontade de viver. Questionou-se se teria razões para levantar o seu corpo pesado e pouco ágil, retirando-o daquele suave marasmo em que se encontrava, e que apesar de tudo até era bem agradável. Mesmo quando era mais novo e ainda tinha folia para se aventurar no desconhecido, o que mais gostava era de voltar para a cama e repousar o corpo estafado no primeiro colchão que lhe desse abrigo. O torpor matinal era a sensação que mais lhe agradava, suplantando mesmo o prazer proporcionado pelos espamos corporais que qualquer ocasional relação carnal originava. Na verdade, pensando bem, tudo o que havia conquistado enquanto novo, e não fora pouco, dissipara-se rapidamente devido à indolência que sempre fora uma trave mestra do seu carácter. Porquê agora, já velho e cansado, preocupar-se em se levantar e lutar pela vida que, cada vez mais, não fazia qualquer sentido? Ele próprio já esquecera as suas glórias e conquistas de jovem macho desbravando o mundo. Parecia tudo um enredo de má ficção: o herói constantemente derrotado por si próprio.
Vivia agora num condominio de luxo, onde contudo não podia fazer o que lhe aprouvesse. As regras eram rigidas e nem dentro da sua própria casa era Rei e senhor. A administração do condominio, qual personificação Orwelliana tomava conta da vida dos residentes. Para quê então levantar-se e continuar a lutar, se já nem em si mandava?
Todas estas cogitações começaram a pesar sobre as suas pálpebras que irresistivelmente cederam. Virou-se para o outro lado, na cama, e ficou a gozar o prazer de sentir os sentidos desvanecerem-se até à inconsciência total.
Antes de adormecer completamente ainda ouviu uma voz distante a gritar-lhe: "Portugal, vais ficar outra vez na cama?"

1 Comments:

Blogger Maria Heli said...

Parece que esses estados de letargia nos custam mais quando envoltos em más recordações.
Mas nada como fazer por voltar a adormecer e acordar de novo :)

12:26 da tarde  

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