terça-feira, julho 12, 2005

O homem que queria ser o Giulliani

Andava nervoso. Aquele nervoso que não se sabe bem de onde vem, mas que revolve o estômago e causa cãibras nas pernas. Precisava de algo que agitasse a sua vida, que impulsionasse a sua obra, que o tornasse compreendido; enfim, que raios, o seu trabalho não era totalmente compreendido. Mas ele estava satisfeito com a obra realizada. Não sabia bem porquê, mas estava satisfeito. Pelo menos era rigoroso, dizia com os seus botões. Tinha fama disso. Austinado, mas austero, orgulhava-se. Bem, pelo menos até se pôr a brincar com carrinhos, aí a imagem severa diluía-se um pouco.
O que lhe fazia falta, isso sim, era uma qualquer acção heróica, que desvendasse o seu lado genial, obliterado pelo pragmatismo com que fazia questão de dizer que regrava a sua vida. Convenceu-se disso. Mas...onde poderia ele espoletar o herói que existia dentro de si? Onde, nesta cidade alguém precisaria de um super-herói? Onde mostrar a fibra dos verdadeiros líderes, que ele possuia, sem qualquer dúvida. Pelo menos era o que lhe diziam os seus conselheiros!
Eis senão quando, surge a grande oportunidade! Um edifício explode numa das artérias mais emblemáticas da sua cidade. Só pode ser uma resposta dos deuses aos seus anseios. É, indubitavelmente um atentado terrorista! Com mortos e tudo. Nova Iorque será esquecida, é aqui que o terrorismo atacou, aqui na mui nobre e sempre leal cidade que ele dirige. Os obtusos dos bombeiros insistem que terão sido umas botijas de gás. Pobres coitados, nada sabem. Foi o terrorismo, quiça islâmico, etarra, da Irlanda do Norte, não interessa, foi o terrorismo. Querem destruir a cidade, mas ele, qual Rudolph Giulliani, vai estar na linha da frente, sem medo dos terroristas, a mostrar que é um líder, o maior de todos!!!
Calem-me esses bombeiros e a história das botijas de gás. Não se está mesmo a ver que foi um atentado?

5 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Caro Duarte,

Esse teu anti-Rio fundamentalista leva-te a escrever coisas que nem lembra ao diabo!

É certo que o homem não entrou bem na cidade ao insurgir-se contra aquilo que ele denominou de "poderes instalados". Demonstrou nesse tempo uma falta de senso e de "cautela" na gestão dos interesses da Câmara. Se não concordo com a forma, já não deixo de concordar com o conteúdo. O tempo até lhe veio dar razão.

E os resultados da sua obra e da gestão do município estão aí à vista, nomeadamente com as sondagens que foram conhecidas ontem.

O homem terá o meu voto!

E estou certo que com o andar da carruagem, também tu, acérrimo portista, vais mudar de opinião.

9:41 da manhã  
Blogger Maria Heli said...

Óh Duarte, o seu texto fez-me sorrir...mais pela analogia que faz...mesmo com o guardião de Nova York, aquando do atentado de 11 de Setembro!

Muito acutilante! Ou apenas antipatia feroz pelo nosso edil!?

Sabe que eu até simpatizo com ele!

Não! Não vale ir ali a um post dos meus,colocar um explosivo :)

Porque para demolidor, já chega este seu post! Mas ao menos é uma demolição bem humorada!

2:21 da tarde  
Blogger Duarte Nuno Correia said...

"Eu tenho ideias e razões,
Conheço a cor dos argumentos
E nunca chego aos corações."

Talvez fosse boa ideia o nosso edil adoptar como lema este poema de Fernando Pessoa, porque a mim, tal como a muitos, não me chega ao coração...

6:16 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Adorei o seu texto. E não é só porque não simpatize com Rui Rio!

Rita

3:58 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

Agora pela calada da noite ando a convocar os comentadores do amor e ócio para participarem no concurso e tal como eu votarem no texto da Maria Heli! Temos que apoiar a nossa Maria! Passem a palavra ;)obrigada
Cenoura

8:55 da tarde  

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